No dia 23 de julho de 2013, foi apresentado,
no Theatro Guarany, o espetáculo Landel de Moura – O Incrível Padre Inventor,
uma produção da Cia Teatral Face & Carretos, de Porto Alegre, dirigida por
Camilo de Lélis. O público presente pode conhecer um pouco da história de um
importante inventor brasileiro, desconhecido pela população em geral.
O padre Landel de Moura viveu na virada do
século XIX, para o século XX, em Porto Alegre. Um de seus inventos mais
conhecidos foi um aparelho capaz de transportar a voz das pessoas a longas
distâncias e permitir que elas pudessem se comunicar por meio de ondas
eletromagnéticas, mesmo estando longe umas das outras. O padre percorreu
diversos estados brasileiros e até mesmo outros países para divulgar os seus
inventos e também estudar fenômenos que a ciência da época acreditava serem de
impossível explicação. Obviamente que, assim como todos aqueles que estão à
frente do seu tempo, Landel de Moura foi chamado de louco e o seu protótipo do
que hoje conhecemos como telefone foi considerado uma fraude, algo que seria
impossível de funcionar.
A
montagem da Cia Face & Carretos, com dramaturgia de Hercules Grecco faz o
registro histórico desse importante e esquecido personagem da ciência nacional.
Talvez, esse seja o maior predicado do espetáculo.
Os cenários, adereços e efeitos de
Alexandre Fávero conseguem compor uma unidade estética. Entretanto, alguns
elementos de cena e partes do cenário são explorados em poucos momentos, sem
serem realmente importantes para a construção narrativa do espetáculo. Cenários
muito grandiosos, quando não estão extremamente inseridos na concepção da linha
dramatúrgica, passam mais a imagem de um cenário grande, do que de um elemento
importante dos acontecimentos cênicos.
A iluminação, criada por Fernando Ochôa,
teve que ser adaptada às condições estruturais do Theatro Guarany, o que,
provavelmente afetou a qualidade da sua concepção. Mesmo assim, era possível
perceber na dramaturgia de iluminação a existência de linhas narrativas em
consonância com o texto de Grecco.
Os figurinos de Fabrizio Rodrigues possuíam
uma unidade estética. Porém, os figurinos do elenco feminino, apesar de serem
muito bonitos, me pareciam um pouco sensuais demais para aquele período
histórico. A beleza das atrizes do espetáculo já é ressaltada por si só, não
havendo a necessidade dos figurinos pretenderem enfatizar ainda mais essa
peculiaridade, pois não é o objetivo da narrativa.
Em certo momento do espetáculo, um dos
atores faz uma piada descontextualizada, trazendo uma situação atual, comumente
exposta nos canais de TV. Entretanto, a piada não funcionou, perdeu o time e ficou totalmente fora de
contexto, mesmo sendo uma piada propositalmente posta como um momento de quebra
do espetáculo. Não há a necessidade de buscarmos o riso fácil e a obviedade no
teatro. Quando houver a comicidade, ela se dará por si só, sem precisarmos
“forçar a barra”. Além disso, a necessidade de se fazer uma referência
televisiva nos espetáculos teatrais apenas empobrece a qualidade da linguagem
teatral.
Outro momento do espetáculo que me chamou a
atenção, foi uma rápida cena de nudez, quando uma das atrizes levanta o vestido
rapidamente e está nua por baixo do figurino. Não há a necessidade dramatúrgica
daquela personagem mostrar a sua genitália naquele momento. O que acontece
apenas reduz o texto a ser ilustrativo do que está sendo dito, passando a
imagem de que o objetivo, ali, era somente mostrar a genitália da atriz, sem
uma justificativa dramática para tanto. Estamos em 2013, o nu não choca mais
ninguém, mas isso não justifica que ele seja descontextualizado, senão ele pode
fazer com que uma cena do espetáculo perca a sua intensidade dramática, apenas
porque há um desejo em expor o corpo dos atores.
O elenco do espetáculo é composto por
Leonardo Barison, Renata de Lélis, Luis Franke, Ariane Guerra, Rafael
Franskowiak, Plinio Marcos Rodrigues, Wagner dos Santos e Flávio Silveira.
Apesar de alguns nomes do elenco serem atores bastante experientes nos palcos
gaúchos, em alguns momentos a peça perdia a sua força, parecia que os atores
cansavam em certas cenas e deixavam a energia do espetáculo desabar. O ator que
interpreta o protagonista do espetáculo, Leonardo Barison, não compromete em
cena. Porém, ficou faltando um pouco mais de humanidade, profundidade e paixão
ao personagem, já que uma pessoa com a história como a de Landel de Moura,
provavelmente, carrega em si uma grandiosidade de alma que não era vista em
cena.
Renata de Lélis é uma atriz bastante
conhecida dos nossos palcos e com um vasto repertório técnico. Os momentos em
que ela canta em cena prendem a atenção dos espectadores. Mas, ainda sinto que
a sua personagem merecia uma intensidade e profundidade maior no contexto
narrativo para que Renata pudesse explorar melhor as suas qualidades cênicas.
Ariane Guerra faz um ótimo contraponto a todos os atores quando está em cena. É
o tipo de atriz que se propõe ao jogo e segura a cena, disfarçando até mesmo os
momentos em que o espetáculo começa a se perder no marasmo e falta de energia.
Camilo de Lélis é um importante e
competente diretor de teatro. Apesar da grandiosidade da montagem desse
espetáculo, acredito que o diretor poderia ter se focado mais nos seus dotes de
excelente diretor de atores, do que propor uma montagem flamboyant. O espetáculo se torna monótono em alguns momentos,
criando uma barriga em outros, o que
poderia justificar muitos e eficientes cortes no texto e até, quem sabe, de
cenas inteiras, para que o espetáculo ganhasse um pouco mais de ritmo e não
ficasse tão enfadonho de se assistir.
Até me sinto duro demais ao fazer essa
crítica ao trabalho de Camilo de Lélis, tendo em vista o respeito e admiração
que eu tenho ao seu trabalho. No entanto, justamente por conhecer outros
espetáculos onde esse diretor focou a sua atenção à qualidade da direção de
atores, chamo a atenção para esse fato, pois gostaria de voltar a ver essa
qualidade nas suas peças novamente.
Portanto, apesar da importância histórica
do padre Landel de Moura, acredito que o espetáculo deixou a desejar a partir
do momento em que se perdeu no ritmo com que a narrativa foi desenrolada. Mesmo
assim, deixo aqui o registro das congratulações a essa companhia por ter
ressuscitado a história de um personagem pouco lembrado pelos livros de
história.
Vagner Vargas
Ator – DRT: 6606
Crítico de Teatro
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