No dia 25 de outubro de 2013, estreou mais
um espetáculo do experiente e consagrado Valter Sobreiro Jr. Com uma carreira
de mais de 50 anos trabalhando como encenador, dramaturgo, iluminador,
cenógrafo e demais atividades que compõem a construção de espetáculos de artes
cênicas, Valter nos presenteia com Pai-de-Deus,
uma peça de teatro esteticamente diferente de alguns dos seus renomados sucessos.
Não vou me ater ao padrão de qualidade dos
espetáculos de Valter Sobreiro Jr., pois já o fiz em outra crítica publicada
aqui neste blog http://criticasparateatro.blogspot.com.br/2013/05/mais-um-excelente-trabalho-de-valter.html. Este
diretor, que esteve à frente do Grupo Teatro Escola de Pelotas (TEP) por mais
de 20 anos, recebendo dezenas de prêmios em todo o país com as suas peças,
agora, com o Grupo Entremez de Teatro, inaugura uma nova fase de produções e
repertórios de espetáculos para circularem em território nacional e
internacional, como nos trabalhos junto ao Teatro Escola de Pelotas. O TEP
alcançou reconhecimento não apenas nos palcos brasileiros, mas também nos
países vizinhos. Porém, o destaque na mídia local somente surgiu quando o grupo
foi aclamado pelo público e crítica do eixo Rio-São Paulo e do exterior.
Faço aqui essa referência, pois na mesma
noite de estreia da peça Pai-de-Deus, houve
o lançamento do livro “O que pode o tempo – Maragato e a consagração de
Sobreiro”, escrito por Helena Zanela Prates. Neste livro, a autora faz uma
abordagem interessante sobre a maneira como a mídia trata as produções de
teatro locais. Além disso, Helena também cumpre um importante papel ao
registrar uma parte da história do teatro gaúcho, ao abordar o sucesso da peça
“Maragato”, de Valter Sobreiro Jr., levada aos palcos pelo TEP.
Em Pai-de-Deus,
observamos uma história desenvolvida em duas grandes cenas, diferentes entre
si, porém, interligadas pela sua essência. Não há uma explicação óbvia para as
situações que são apresentadas. O espectador acaba se envolvendo com o universo
dos personagens e, aí, compreendendo que todas as histórias são atravessadas
por diferentes e complexos contextos e que a visão unilateral dos fatos nos
impede de observar os indivíduos dentro de sua complexidade.
Como em um pas-de-deux, os atores Sérgio Peres e Bernardo Pawlak jogam em cena
em uma ótima sintonia. Essa sintonia entre os atores não deixa transparecer as
diferenças entre o experiente Sérgio Peres - e seus muitos anos vivendo
diferentes personagens nos palcos - e o jovem talentoso Bernardo Pawlak. Ambos
os atores estão muito bem, um colaborando com o outro em cena para que o
público consiga ser envolvido pela complexidade dos seus personagens.
O espetáculo foi apresentado na Fábrica
Cultural, um espaço novo que começa a se fortalecer no cenário das artes
cênicas como uma opção à falta de casas de espetáculo para peças de teatro que
não se direcionam às grandes plateias. Além disso, a estrutura do local deve
ser elogiada e indicada para futuras apresentações em nossa cidade, pois
apresenta um espaço versátil e que pode funcionar como uma excelente opção aos
espetáculos que desejam um contato mais íntimo com os espectadores.
Valter soube tirar o melhor proveito do
espaço cênico. Ao colocar o público disposto em cadeiras no palco e os atores
no espaço que seria tradicionalmente reservado à plateia, o diretor além de nos
propor à reflexão do valor que devemos dar aos nossos espectadores, nos coloca
em uma perspectiva que permite avaliar a história como se estivéssemos entrando
no interior dos seus acontecimentos.
Esse tipo de opção estética requer dos
atores uma técnica de interpretação que deveria beirar o hiper realismo, dada à
proximidade com o espectador e os conflitos dos personagens. Talvez, esse
quesito ainda necessite ser ajustado nas opções de estilo de atuação dos
atores. Mas, é só uma questão de ajustes, já que ambos têm talento e
competência suficientes para obterem resultados cênicos ainda melhores. Essa
questão que destaco aqui é muito interessante, pois, geralmente, os atores só
conseguem ter a real dimensão do seu trabalho quando as peças saem das salas de
ensaio e vão ao encontro dos espectadores para que o evento teatral possa
acontecer. Comumente os artistas de teatro costumam dizer que as estreias são
momentos de nascimentos das suas peças de teatro e, como tais, os trabalhos e
ajustes mais específicos iniciam a partir desse dia.
A concepção de figurinos, maquiagem e
cenário enxutos criaram uma identidade visual ao espetáculo bastante limpa e
funcional. Além disso, dada a maneira enxuta como foi concebida, possibilitará
ao grupo uma boa versatilidade para apresentarem esse trabalho em diferentes
espaços. A direção de palco de Roberta Rangel completa a ficha técnica do
grupo.
Portanto, nascimentos e estréias são sempre
bem vindos e, nesse dia, pudemos observar o nascimento de Pai-de-Deus e o belo futuro que ainda tem pela frente. Assim como
em todos os seus trabalhos, Valter assina aqui mais exemplo do seu padrão de
qualidade e que merece ser assistido por todos.
Vagner Vargas
Ator – DRT: 6606
Crítico de Teatro
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