A
tradição teatral na cidade de Pelotas sempre obteve respeito e relevância em todo
o estado. Os movimentos teatrais pelotenses atingiram o seu apogeu no final da
década de 80 e início dos anos 90, diminuindo a sua produção posteriormente.
No
momento em que o Brasil vivenciava o final da ditadura militar, o teatro
pelotense aparecia como meio de protesto efervescente em evidência na sociedade
e mídia locais. Naquela época, o fazer teatral ia além do exercício da
profissão, funcionando como mecanismo de reflexão, expressão e educação dos
artistas à população. Obviamente, estes movimentos tiveram seu êxito favorecido
pelo amplo apoio dos meios de comunicação que divulgavam os artistas locais e
dos esforços políticos da época que forneciam estruturas para que este se
mantivesse constante. Até a metade da década de 90, haviam muitos festivais de
teatro amadores, profissionais e estudantis nesta cidade fomentando a produção
teatral desde a infância até a idade adulta. Além disso, Pelotas fazia parte do
constante fluxo de turnês de peças de teatro e dança de todo o Brasil, Uruguai,
Argentina e outros países, sempre propiciando intercâmbios e trocas de
experiências com os artistas locais.
Após
este período, Pelotas ainda pôde prestigiar a montagem de grandes espetáculos
de dança e de teatro em sua cidade, com muitos artistas locais sendo premiados
em diversos festivais no estado, salientando sempre o respeito à qualidade dos
artistas pelotenses em todos os locais por onde passavam. Entretanto, com as
políticas culturais desenvolvidas em nossa cidade a partir do final da década
de 90 até o início do novo século, a produção teatral pelotense decaiu,
passando a viver em alguns momentos num estado de ostracismo lastimável. Desta
forma, muitos dos artistas locais foram buscar oportunidades em outras cidades
e dos que restaram, a luta para combater o saudosismo e trazer os tempos de
glória à tona novamente passou a ser sua meta. Alguns espetáculos têm sido
montados na cidade, mas dado o afastamento do público, a dificuldade de
divulgação nos meios de comunicação local e a ineficiência de processos
educativos formadores de público cultural pelotense, as plateias de teatro
mostram-se vazias quando o espetáculo em questão não possui artistas de visibilidade
televisiva nacional.
Atualmente,
Pelotas vive uma retomada dos esforços ao fomento teatral motivados pela
criação das faculdades de Teatro e Dança-Teatro da Universidade Federal de
Pelotas, nas modalidades de Licenciatura. Apesar disso, não podemos colocar
todas as responsabilidades e esperanças na produção universitária, já que
existem grupos de teatro e dança com sua produção independente dos objetivos
acadêmicos. Saliento isso, pois a retomada da produção teatral pelotense
depende de esforços políticos concretos, apoio dos meios de comunicação,
investimento do empresariado local, na forma de patrocínios e processos de
fomento educativos no intuito de formar plateias desde a infância para que o
teatro e a dança sejam vistos como um hábito de aquisição de cultura, lazer,
entretenimento, reflexão, protesto, convivência e atividade profissional que
emprega diversos trabalhadores. Além disso, com o incentivo para o público
freqüentar os teatros não apenas para conhecer os artistas que trabalham em TV,
mas para desfrutarem do prazer de verem uma história ser contada em tempo real
na sua frente, ao longo de um espetáculo, o teatro pelotense poderá voltar a
viver os seus tempos de êxito, como no passado, firmando-se como mercado de
trabalho e ferramenta cultural.
Texto publicado em 24/02/2012
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