Com
a introdução de sons da Floresta Amazônica, o Subtilior Ensemble e o CamerAcre Uirapuru, vinculados ao Curso
Superior em Música da Universidade Federal do Acre, trouxeram um pouco da
atmosfera do norte do Brasil para Pelotas, na noite do dia 24 de Julho de 2010.
Apesar da distância geográfica entre o centro de produção do grupo e nossa
cidade, a música, desde que executada com competência, tem capacidade de tocar
os corações que se abrem para ouvi-la.
Dois integrantes deste grupo,
Marcelo Brum e Luthiene Bittencourt tiveram sua formação musical concluída na
Universidade Federal de Pelotas, antes de transferirem-se para o norte do país.
Constantemente, o pianista e a cantora vêem ao Rio Grande do Sul para
realizarem concertos e apresentações, mostrando o trabalho que desenvolvem fora
do estado. Entretanto, nesta ocasião, os artistas vieram acompanhados de outros
músicos, com o objetivo de veicular a música camerística produzida no Acre e
propiciar um intercâmbio cultural entre os cidadãos de um mesmo país, porém com
extremas diferenças culturais.
Neste sentido, relato o deleite que
os espectadores presentes tiveram na oportunidade de escutar composições
medievais executadas com imensa sensibilidade. Saliento aqui a proposta de dinâmica
de palco, adaptando-se aos espaços disponíveis, pois, assim, há uma quebra aos
tradicionais padrões rígidos de posicionamento dos músicos em cena que, em
muitos concertos, tornam-se cansativos aos olhos da platéia, o que não foi o
caso do Subtilior Ensemble que optou
por composições delicadas que transitavam sensivelmente entre as vozes, ao
sempre belo som de um alaúde. Além disso, a CamerAcre nos brindou com um
repertório contendo Lendas Amazônicas, dotadas de um lirismo tocante oriundo da
simplicidade característica das histórias daquela região. Aliás, o restante do
repertório era formado por compositores brasileiros, como Villa-Lobos e Noel
Rosa, por exemplo. Não posso deixar de registrar aqui o belíssimo arranjo que o
grupo compôs para a música Vira-Virou, dos autores pelotenses Kleiton e Kledir.
No momento em que Vira-Virou começou a ser executada, formou-se um silêncio
maior, era possível perceber que, a cada nota, os corações da platéia iam
viajando naquele ritmo e mergulhando na beleza da entrega com que os músicos
cantaram e tocaram esta canção. Muitas lágrimas rolaram, muitas outras foram
presas, mas posso garantir que ali muitos corações foram tocados pela arte e,
com certeza, dormirão esta noite mais elevados.
Não posso terminar este texto sem
comentar as propostas de envolvimento cênico do grupo, durante a performance
das músicas de Noel Rosa e Premeditando o Breque, muito apropriadas aos temas
das músicas e, ao mesmo tempo, quebrando com o excesso de formalidades com que
muitos concertos de música erudita são conduzidos. No caso da CamerAcre, a
proposta gera aproximação e identificação entre artistas e platéia. Além dos
artistas citados anteriormente, ainda compõem o grupo Alain Neto, Afonso
Messias, Ciro Quintanna, Douglas Marques, João Brito e Maximo Lopes.
Vagner Vargas
DRT – Ator – 6606
Texto publicado em 24/07/2010
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