Quanta
bobagem!
Quanta
besteira!
Quanto
despreparo para falar de cultura!
Estou cansado de tanta gente que se utiliza de um discurso desconexo, desprovido de embasamento para se outorgar o direito de falar em prol de uma categoria. Fazer tipo, ter estilo, misturar palavras, fugindo das normas do idioma, mesmo que seja da maneira comum de organizar sua fala em um contexto coloquial, apenas indica a fragilidade de não se ter conteúdo suficiente para sustentar um discurso. Assim, se permanece no limiar da aparência, no discurso raso e inconsistente.
Negar a história e tradição de um lugar não é apenas um equívoco. Mas, uma burrice!
Negar o valor do patrimônio histórico, seja ele material ou
imaterial demonstra que pouco se sabe sobre o conceito mais amplo de cultura.
Chegar com olhar arrogante por sobre o que constitui a cultura de um
determinado local, menosprezando-a ao ponto de desprezá-la e achar que devemos
esquecer todo o contexto que envolve o patrimônio histórico material e
imaterial, ressalta a profunda ignorância de quem desconhece a realidade da
profissão artística e da importância que determinados aspectos representam para
a construção da identidade cultural de um povo.
Negar a importância que o restauro do Theatro Sete de Abril tem para Pelotas é um absurdo!
Menosprezar a importância que não apenas a classe artística
dá a esse teatro é um desrespeito com o patrimônio cultural nacional!
Sim, digo isso, pois o Theatro Sete de Abril não é importante
apenas para Pelotas, mas para o Brasil com um todo. Não entrarei nem na questão
do fato dele representar e exemplificar toda a constituição histórico cultural
de um determinado período do nosso país. Mas, ouvir palavras dizendo que temos
que esquecer esse teatro - e não é apenas uma pessoa equivocada que vem
proferir esses pseudo discursos por aqui – me indigna muito!
Fico indignado, pois esse tipo de discurso pseudo intelectualóide de base rasa, parca e inconsistente reflete o grande despreparo e desconhecimento de algumas pessoas que resolvem se intitular para falar em nome de uma determinada categoria profissional. Para aqueles que desconhecem a realidade do mercado cultural das artes cênicas como um todo, eu vou descrever agora, apenas alguns dos motivos para os quais o Theatro Sete de Abril se faz importante em nossa cidade. De início, pegarei apenas os aspectos mercadológicos.
Para quem não é profissional das artes cênicas, talvez não saiba, mas a existência de um teatro público em uma cidade, facilita não apenas o fluxo de apresentações de música, teatro, dança, performance e etc... oriundas de fora do município, incluindo-o no circuito de circulação nacional e internacional de espetáculos, pois os preços de aluguel do estabelecimento se tornam atrativos e facilitam a vinda de artistas de fora à cidade.
Com isso, ganham os artistas, por terem mercado de trabalho e
a população pela possibilidade de ampliação do seu repertório estético
artístico. No entanto, esses benefícios não se direcionam apenas para os
artistas de fora da cidade. Aqueles que aqui estão trabalhando, podem dispor de
um teatro público, com toda estrutura técnica que lhe propicie boas condições
de trabalho, além de fomentar a formação de público local e valorizar a
produção artística da cidade.
A localização central do Theatro Sete de Abril facilita o acesso do público que circula, trabalha ou estuda pelo centro da cidade. Ele dispõe de vários locais para o estacionamento de automóveis pelas suas redondezas. Existem vários estabelecimentos alimentícios e demais comércios pelas redondezas, propiciando que os espectadores disponham de uma ampla gama de facilitadores para o acesso às atividades artísticas nesse local. Assim como o fato de, em caso de necessidade, qualquer pessoa rapidamente consegue ter acesso a muitos serviços.
Quem trabalha no mercado artístico, compreende que a
localização das casas de espetáculos é muito importante no fomento, estímulo e
formação de plateias.
Nesse sentido, não posso deixar de considerar que seja muito ingênuo o pensamento de que todo espectador tenha que ser obrigado a querer assistir experimentalismos artísticos, em espaços inadequados para as características e necessidades de algumas pessoas. Entretanto, também não quero dizer aqui que os artistas ainda inexperientes e jovens não tenham que se entregar às experimentações artísticas e que elas também não devam existir. Refiro isso, pois considero que propostas artísticas em locais não usais oferecem oportunidades estéticas diferenciadas àqueles que desejam ir lá apreciá-las.
Nesse sentido, não posso deixar de considerar que seja muito ingênuo o pensamento de que todo espectador tenha que ser obrigado a querer assistir experimentalismos artísticos, em espaços inadequados para as características e necessidades de algumas pessoas. Entretanto, também não quero dizer aqui que os artistas ainda inexperientes e jovens não tenham que se entregar às experimentações artísticas e que elas também não devam existir. Refiro isso, pois considero que propostas artísticas em locais não usais oferecem oportunidades estéticas diferenciadas àqueles que desejam ir lá apreciá-las.
Porém, me nego a deixar que discursos ingênuos e fora do
contexto profissional da vida artística fiquem indo até à mídia para levantarem
bandeiras de suas crenças estéticas peculiares. As pessoas que pretendem trabalhar com arte não podem impor
ao público as manifestações estéticas que lhes agradam.
Por
outro lado, também acredito que os artistas não devam se curvar às pressões da
mídia para que exista um tipo de ditadura das estéticas teatrais, impondo que
apenas um tipo de espetáculo seja divulgado e estimulado de ser levado ao
público em geral. No entanto, comumente, pessoas que não são artistas, mas
tentam trabalhar com arte, costumam impor alternativas ditas experimentais como
as únicas válidas de serem levadas aos espectadores. Além disso, a arrogância
dessas pessoas não é nada mais, nada menos do que uma auto defesa para tentar
ludibriar as fragilidades da sua “não-arte”. Para tanto, costumam vir com
discursos prontos, misturando uma infinidade de referenciais teóricos e
acadêmicos – na maioria das vezes de maneira equivocada – para dizerem que o
que produzem é arte. Sendo essa a única
válida, importante e merecedora de destaque.
Os
espectadores não têm que ficar escravos desse tipo de manifestação. Quem diz
que os espectadores devem ter a sua disposição apenas espetáculos
experimentalistas, desconhece totalmente a realidade da profissão artística. O
público tem que ter todas as opções para decidir em quais deseja ir. Mas, negar
a importância de teatros no estilo do tipo italiano é uma burrice!
Escrevi aqui esse texto imenso, pois, eu como artista e profissional da arte me nego a deixar que pessoas despreparadas e desconhecedoras da vida artística fiquem indo aos meios de comunicação menosprezar e desconsiderar a relevância que o patrimônio histórico tem para a nossa cidade. Além disso, saliento aqui o meu apoio aos esforços que eu sei que a atual administração está fazendo para que um dos teatros mais bonitos desse país – digo isso, pois já pisei o palco de muitos teatros em diversas cidades – não venha a desabar. Tenho certeza de que o atual governo compreende profundamente o valor que o patrimônio histórico material e imaterial têm para a cultura de um povo.
Agora, para quem trabalha nos meios de comunicação, pesquise mais a quem você está dando a palavra, para ver se essa pessoa realmente compreende e tem vivência na área para saber do que está pretendendo falar. Para quem, na sua ingenuidade e ignorância desconsidera o valor do Theatro Sete de Abril para a cidade de Pelotas, eu apenas lhe digo uma coisa: Vá estudar!
Ator – DRT:6606
Crítico de Teatro
Texto publicado em 17/01/2013
Posfácio de um Desabafo
O texto acima foi
escrito em tom de desabafo e indignação após uma entrevista que eu assisti em
um programa de TV local, onde uma pessoa totalmente despreparada vinha trazer
ao público as suas crenças sobre o teatro na cidade de Pelotas. Já deixei anteriormente
escrito o que penso sobre as declarações dessa pessoa, assim como ao despreparo
de pessoas que lidam com certas mídias.
Mas, após re ler esse
texto, senti a necessidade de comentar outras coisas, pois venho observando nos
últimos anos um movimento crescente de desdém à cultura local.
Coincidentemente, esse tipo de postura tem vindo de pessoas sem vivência e
experiência artística. No entanto, são dotadas de uma soberba extrema que lhes
auto confere um pseudo direito de virem menosprezar os valores do patrimônio
histórico material e imaterial da cidade de Pelotas.
Obviamente que as
pessoas com esse tipo de comportamento estão equivocadas. Entretanto, para os
olhos mais atentos, isso apenas reflete o olhar viciado e despreparado de
pessoas que desejam ser artistas, desejam ser profissionais das artes cênicas.
Porém, o lugar onde sempre habitaram foi a margem dos artistas do palco, os
assentos das plateias ou as suas salas de aula.
Diploma não torna
ninguém artista. Toda e qualquer tipo de formação, seja ela em espaços formais
ou não formais, tem o seu valor por agregar algum tipo de experiência aos
indivíduos. No entanto, não é o fato da pessoa ter esse ou aquele título, ter
estudado aqui ou ali que a tornará artista.
A prática diária da sua
arte, comungando com o seu público é que, ao longo do tempo, lhe constituirá
como artista. O artista trabalha para a sua arte. O conforto e segurança de uma
sala onde se pode criar “verdades absolutas” – com muitas aspas, pois eles
realmente crêem que as possuem – não lhes torna artista. Precisamos diferenciar,
antes de mais nada, o artista, daqueles que falam, teorizam, divagam e
especulam sobre a carreira artística.
Estar protegido dentro
de um templo de teorias e divagações para vez por outra realizar algum tipo de
apresentação a um público seleto, justificando todas as suas falhas artísticas
por meio de referências bibliográficas está muito distante do que realmente é o
trabalho dos atores de verdade. Os verdadeiros atores estão lá, em suas salas
de ensaio, teatros, ruas, em busca do seu público e de suas personagens.
Sobre os por menores
dessa questão, prefiro deixar as palavras ditas pela grande atriz Fernanda
Montenegro nesse vídeo: http://youtu.be/KMQzG1jpavU
Apesar de muitas
pessoas perceberem a diferença entre os atores de verdade e aqueles que criam
verdades e conceitos sobre o trabalho dos atores, a mídia costuma dar muito
espaço a estes últimos, limitando a palavra a quem realmente é trabalhador das
artes cênicas. Essa pode estar sendo uma postura inicial dos meios de
comunicação aqui na cidade, pois, muitas das pessoas que trabalham neles
possuem laços de amizade e/ou parentesco com aqueles que falam sobre as artes
cênicas, mas não são realmente artistas da cena.
Estaria essa falácia
ocorrendo em outras cidades?
Será que os meios de
comunicação também optam por dar a palavra àqueles que não são atores para
falarem sobre o ofício de ator, como se assim o fossem?
Não sei se isso
acontece em outras cidades. Realmente não sei. Todavia, identifico aqui um
grave problema. Ao fornecer a palavra a pessoas que não vivenciam e não têm
competência para um certo ofício, os meios de comunicação acabam deixando que
pessoas despreparadas levem suas crenças, conceitos e percepções sobre algo que
elas não têm competência para fazer, mas criam “verdades” que são levadas ao
público como sendo “realidade”.
Essa é uma ótima
alternativa para aqueles que não são atores se outorgarem conceitos e
definições sobre o trabalho dos profissionais de teatro, pois o que dizem está
nos meios de comunicação, lhes conferindo certa credibilidade junto a uma
grande parcela de público que não dispõe de repertório estético suficiente para
olhar essas informações por meio de uma perspectiva crítica. Por outro lado, os
atores de verdade, profissionais das artes cênicas muitas vezes se vêem em
apuros tendo que convencer o público de que eles não precisam ser detentores de
todos os embasamentos teóricos e acadêmicos para poderem prestigiar os seus
trabalhos artísticos.
A cidade de Pelotas tem
uma tradição teatral que perdura desde o século XIX. Se hoje existem cursos
superiores nas artes cênicas nessa cidade, eles se devem ao fato de que os
artistas nunca deixaram de produzir teatro e dança em Pelotas. Os recém
chegados à Princesa do Sul sejam eles para trabalharem em algum setor
relacionado às artes cênicas ou para buscarem cursos na área, não desembarcam
em um município desprovido de referenciais estéticos na área.
Talvez, esse seja o
grande erro e problema de algumas pessoas que, equivocadamente, fazem de sua
arrogância o conceito de uma “Síndrome de Padre Anchietismo”, pensando que
estão vindo catequizar alguns índios. Essas pessoas se utilizam dos seus locais
de poder, das suas relações de poder e, acima de tudo, da segurança confortável
dos seus locais de trabalho para espraiarem os seus idealismos, preconceitos
culturais e equívocos artísticos.
Pelotas não é e nunca
foi uma cidade à margem do universo cultural. Se os estrangeiros que aqui
chegam para matar a sua fome, por meio do seu trabalho, ou para sanar a sua
sede de aprendizado, mantêm um olhar preconceituoso sobre a nossa história,
isso reflete o quanto lhes falta aprofundar os estudos sobre a cultura local.
Já cheguei a ouvir
declarações de pessoas dizendo que nunca houve teatro fora de Porto Alegre
durante o século XIX, que desconheciam nomes como Lobo da Costa ou até mesmo,
professor indo à público dizer que João Simões Lopes Neto nunca havia escrito
uma peça de teatro. Esses são apenas alguns pequenos episódios. Infelizmente,
são pequenos, pois existem “conceitos” piores.
O que isso significa?
Significa a frágil formação
de algumas pessoas que vêem à cidade ensinar outras. Significa o total
despreparo e falta de vivência como profissionais das artes cênicas para virem
ditar suas “verdades”.
As minhas palavras
podem transparecer algum tipo de generalização ou banalização da importância de
muitas pessoas que aqui chegam. Mas, não é nada disso, um bom leitor saberá
discernir e refletir bem sobre o que estou escrevendo.
Agora, traçando uma
relação com o texto anterior, o que me assusta é que pessoas como essa que deu
a tal entrevista, adquire esse olhar equivocado sobre o patrimônio cultural
material e imaterial da cidade de Pelotas, por meio de pessoas que aqui chegam
trazendo consigo uma grande carga de arrogância, respaldada em uma base
referencial muito frágil. Toda essa percepção equivocada sobre a cultura da
cidade, sobre a história do teatro local, de seus atores, dramaturgos,
figurinistas, cenógrafos, iluminadores, maquiadores, diretores e demais
profissionais das artes cênicas, se deve ao fato de que muitas dessas pessoas
ou realmente não estudam e pesquisam sobre o local onde vem trabalhar ou têm
medo de que os demais descubram a sua insignificância ante à história daqueles
que aqui construíram uma história do teatro pelotense.
Para tanto, a humildade
e o respeito se fazem necessários. Mas, essas não são qualidades que os fracos,
incompetentes e despreparados possuem. Assumir suas fragilidades pode lhes soar
como perda do seu lugar de conforto e poder, já que os demais o perceberão em
sua real condição. Porém, na verdade, respeitar a história de um local, a sua
cultura e as pessoas que constituíram e constituem ao longo dos tempos, lhe
trará um respeito maior perante à sociedade, já que essa pessoa demonstrará que
está disposta a se informar, para que, no futuro, possa vir a colaborar
efetivamente para a cultura do município.
Mas, será que existe
essa disposição?
Aos que recém começam a
dar os primeiros passos nas artes cênicas, recomendo que duvidem de tudo o que
lhes dizem, saibam perceber quem são os que realmente têm propriedade para falar
sobre o labor nas artes cênicas e quem são os seus falsos mestres.
A ingenuidade é irmã da
inexperiência.
Somente o tempo lhes
trará esse discernimento. Mas, não custa nada lhes chamar atenção para que não
comecem a sua caminhada dando passos infalsos ou utilizando sapatos com saltos
frágeis que rapidamente se rompem e a queda pode ser definitiva para alguns.
A cada dia mais sinto a
necessidade de que os artistas do palco reflitam sobre os motivos que têm
afastado os espectadores de suas plateias. A modernização, as inúmeras
tecnologias, a violência urbana, o acesso e uma série de questões representam
apenas alguns desses motivos. Entretanto, acredito que tanto os artistas,
quanto os aspirantes a profissionais das artes cênicas devam estar bem atentos
para o que está afugentando o público dos teatros.
Não seria o fato da
divulgação de que o espectador para assistir a um determinado espetáculo deva
trazer consigo uma bagagem literária imensa para que ele não se sinta burro ante
o que lhe apresentam? Não seria o fato do excesso de conceitos e teorismos
levados por alguns aos meios de comunicação como sendo necessidade para que as
pessoas adentrem aos teatros? Não seria a super valorização e a imposição de
que o público tenha que assistir a espetáculos excessivamente
experimentalistas?
Onde ficou a relação do
ator com o seu público?
Sim, porque teatro se
constitui na relação entre aquele que apresenta e aquele que assiste. Fazer
teatro sem querer público, não é fazer teatro, é um equívoco de gênese. Se o
público deixou de frequentar os espetáculos teatrais, talvez seja pelo fato de
que os novatos que chegam ao mercado, trazem consigo conceitos que não refletem
a realidade da práxis teatral e da
importância do seu diálogo com os espectadores. Ou o que alguns produzem e
conceituam como sendo teatro, na realidade não é e o público sabe disso.
Leva-se tempo para
discernir e se dar conta do que é teatro de verdade e o que está no plano
onírico. O mundo das ideias, deixamos para aqueles que apenas podem habitá-lo.
No entanto, o mundo do teatro deve trazer consigo um fator primordial: levar o
diálogo e a relação direta com o seu público, da forma mais pura e genuína como
deve ser, por meio dos atores, suas histórias e o universo imaginário de seus
espectadores.
Portanto, para fechar
esse assunto aqui, já que esse blog se destina a trazer textos sobre críticas
de espetáculos artísticos, re enfatizo a necessidade de ouvirem novamente às
palavras da grande Fernanda Montenegro nesse vídeo: http://youtu.be/KMQzG1jpavU
Vagner Vargas
Apenas um ator.
Lendo o seu texto, fiz uma relação com o que o Ferreira Gulart falou aqui:
ResponderExcluirhttp://lounge.obviousmag.org/marcelo_vinicius/2013/01/a-arte-contemporanea-segundo-ferreira-gullar.html