segunda-feira, 13 de maio de 2013

Teatro de Rua Requer Fôlego e Técnica


         A tarde era ensolarada, a temperatura agradável e a Praça Coronel Pedro Osório estava repleta de pessoas que esperavam ansiosamente em frente ao Chafariz das Nereidas para assistirem ao espetáculo “A Bola e a Roda”, no dia 11 de Junho de 2011. Um pouco antes de escurecer, os músicos Tato Ribeiro e Zé Menna surgiram no palco apresentando seus personagens Auscultador e Viajante.

        O espetáculo conta a história de dois indivíduos que levam suas vidas passeando pelo universo, levando música e poesia aos locais aonde chegam com seu veículo de transporte. O personagem Auscultador é uma espécie de cientista que conserva em pequenos frascos alguns sons emitidos ao redor do mundo. Já o Viajante, é um inventor que roda o planeta criando lugares para suprir a sua necessidade de descobrir novos espaços.

        Logo que chegávamos à praça, percebíamos uma estrutura cênica montada ao lado do chafariz contendo uma espécie de bicicleta, com uma estrutura conjugada que lembrava uma barraca de vendedores ambulantes. Assim que o espetáculo inicia e aquela estrutura nos é revelada, percebemos que existe uma série de obras de arte produzidas por diversos artistas e que compõem uma espécie de souvenires arrecadados durante as viagens dos personagens. Além disso, dentro dessa estrutura ainda continham todos os elementos de cena que seriam utilizados pelos artistas durante a peça.

        Com uma intenção de direcionar esse espetáculo ao público infantil, percebia-se que a opção de explorar cores primárias e uma paleta diversificada pretendia chamar atenção desses espectadores não apenas para os elementos de cena, mas, também, para o figurino. Apesar de serem bastante ilustrativos e demonstrarem que havia um trabalho de concepção com o intuito de criar uma identidade estética ao espetáculo, talvez a maneira como tenham sido confeccionados não tenha conseguido imprimir a noção de identificação que o universo imaginário infantil exige. Essa percepção ficou evidente, pois a sobriedade dos figurinos se sobrepôs à criatividade da proposta.

        Se o espetáculo fosse apenas um show com músicas de temática infantis, teria funcionado com muito mais força. Digo isso, pois a trilha sonora, originalmente composta pelos dois intérpretes, agradava facilmente à plateia, em especial às crianças presentes. Com rimas e refrões interessantes que dialogavam diretamente com o lúdico infantil, as músicas também prendiam a atenção dos adultos ali presentes. Entretanto, como dizemos em teatro: “A peça não saiu do palco” e, assim como a peça, também “As músicas não saíram do palco”. De certa forma, isso frustrou a plateia infantil que estava ávida e aberta ao diálogo cênico com os intérpretes. Porém, acredito que o nervosismo da estréia, o fato de ser uma apresentação na rua e a própria linguagem teatral, tenham afetado a relação artista x espectador. Com isso, os músicos não conseguiam levar o jogo cênico a uma relação de diálogo direto com a plateia, assim como o teatro de rua necessita.

        A partir do momento em que os artistas levam seus espetáculos às ruas, devem estar aptos e alertas a todas as possibilidades de relação que serão geradas com as pessoas que por ali passarem. Não apenas isso, teatro na rua precisa ser feito por atores muito bem preparados físico e vocalmente, além de estarem sempre alertas a todas as situações e imprevistos que a rua pode lhes oferecer. Além disso, teatro de rua exige time e disponibilidade para o jogo cênico com os espectadores, a fim de que eles se interessem pela história que será apresentada e decidam parar para assisti-la. Infelizmente, faltaram alguns desses aspectos em “A Bola e a Roda”, pois os intérpretes não conseguiam estabelecer uma relação de diálogo com a plateia, nem tampouco tinham fôlego e disponibilidade física para sustentarem um espetáculo com essa proposta. Talvez, isso se deva ao fato desse elenco não ser composto por atores. A qualidade musical da trilha sonora é inquestionável, porém a teatralidade da encenação ficou a desejar.

        No entanto, apesar do espetáculo ter uma boa proposta de concepção estética e uma ótima trilha sonora, ele não funcionou como espetáculo teatral. Todavia, não podemos deixar de elogiar a produção do espetáculo que conseguiu mobilizar uma grande quantidade de profissionais das mais diversas mídias para cobrirem a apresentação. Além disso, há que se ressaltar o valor do esforço e empenho de uma produção genuinamente pelotense montada de forma independente, sem patrocínios, nem apoios institucionais.

 Vagner Vargas
DRT – Ator – 6606 – Crítico Teatral.


Texto publicado em 01/07/2011

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