Era um
domingo, 16 de setembro de 2012, chuvoso e frio, típico do final de inverno em
Pelotas. Porém, essa não foi a desculpa para manter um expressivo número de
pessoas em suas casas assistindo aos enfadonhos programas de televisão exibidos
nos canais abertos. Motivados pelo anúncio do novo espetáculo de teatro da
Companhia Pelotense de Repertório, muitos espectadores resolveram aproveitar o
dia para apreciar essa estreia.
Uma das
novidades, se referia ao fato do local da apresentação se dar no João Gilberto
Bar, um espaço até então não explorado pelas artes cênicas pelotenses. Este
espaço já tradicional e conhecido na região por suas festas e shows musicais,
abriu suas portas para um novo filão de mercado: o teatro. A este fato, devemos saudar o pioneirismo da
Cia Pelotense de Repertório por estar abrindo caminho para quiçá um novo espaço
fixo para apresentações teatrais em Pelotas. Obviamente que, dada a estrutura
do local, os espetáculos teatrais que ali possam vir a ser encenados precisarão
ser específicos a esse contexto.
O primeiro
fato que chamou a atenção, foi o número de espectadores, pois eles, apesar de
em grande número, representam ainda uma pequena parcela de pessoas que possam
vir a buscar esse tipo de entretenimento em dias e locais fora dos usuais. O
fato da proposta da Companhia ser para apresentar seu espetáculo em bares, já
agrega um potencial interessante e atraente ao público, pois, além de irem
apreciar uma obra teatral, também podem dispor do conforto e dos serviços que
um bar e restaurante possa lhes oferecer e, após a apresentação, confraternizar
com o elenco e frequentadores do local.
Esse fato permite que os espectadores se sintam motivados a saírem de suas casas para assistirem a uma peça de teatro, já que sabem que não irão se deslocar a um local geralmente insalubre, onde deverão permanecer horas em pé, no frio e com pouca ventilação, como alguns grupos de teatro crêem como única alternativa para apresentações em espaços “alternativos”. A necessidade de buscar novos locais para manter a arte teatral viva na cidade de Pelotas se faz necessário, uma vez que o único teatro público da cidade permanece fechado há mais de 2 anos pela atual gestão municipal.
O segundo
aspecto que me despertou o interesse na plateia, foi a faixa etária dos
espectadores. Comumente, costumamos ver adolescentes e adultos jovens nas
plateias dos teatros. No entanto, para esse trabalho da Cia Pelotense de
Repertório, observei que a maior parte do público era composta por pessoas de
meia idade e idosos. Também devemos prestar atenção a essa situação, pois isso
mostra além de uma empatia dessas pessoas ao excelente trabalho do grupo de
atrizes que estava se apresentando, demonstra ser uma fatia de público pouco
explorada pelos artistas de teatro nos dias de hoje.
Nesse dia, a Cia apresentou o Stand up Comedy 4.5 A Toda Potência. O espetáculo, apesar de dialogar com o estilo tradicional das comédias em pé norte americanas, possui um enredo, com momentos em que cada uma das personagens vai contando a sua história, outros onde dialogam entre si e com a plateia. O texto criado por Joice Lima, que também assina a direção, foi criado a partir de situações e histórias pessoais das atrizes e de pessoas que colaboraram para a criação da peça de teatro. Com ótimas sacadas em tom de humor, as atrizes Joice Lima, Ana Alice Muller, Neusa Maria Khun, Márcia Monks e Val Fabres vão revelando as problemáticas e vivências de mulheres que já passaram dos 40 anos.
Talvez, esse seja um dos aspectos que tanto gerou empatia e identificação da plateia que se fez presente. Foi muito prazeroso observar os espectadores se divertindo, gargalhando e comentando com seus amigos sobre as situações que as personagens iam revelando. Temáticas como amor, adultério, solidão, fantasias sexuais e o amadurecimento foram abordadas no tom certo durante a construção dramatúrgica do espetáculo. Gostaria de salientar a ótima sacada do elenco ao aproveitar o espaço onde estavam se apresentando para dialogarem com os espectadores de maneira mais próxima, quebrando as barreiras entre o “espaço do artista” e o “espaço da plateia”.
Além disso, a intimidade, talento, carisma e entrosamento das atrizes permitia que o enredo fosse se desenvolvendo de uma maneira muito leve. O tempo de comédia estava na medida certa para as situações que as personagens viviam, o que estimulava ótimas gargalhadas ao público presente.
Com certeza, foi um final de domingo muito agradável a todos que foram assistir ao espetáculo 4.5 a Toda Potência. Essa é apenas uma das diversas peças de teatro que a Cia Pelotense de Repertório possui e que costumam ser frequentemente levadas aos palcos.
A maturidade cênica do elenco representa um dos fatores de destaque dessas artistas, não somente pelo respeito que demonstram com os seus espectadores ao oferecerem espetáculos que sejam agradáveis, mas também, por considerarem o conforto e bem estar de quem lhes assiste. Isso, faz com que o público se sinta respeitado e valorizado pelos artistas e não pareça que o artista está fazendo um favor aos espectadores e por isso devam ir a qualquer lugar, com qualquer estrutura para assisti-los.
O público carece de entretenimento e espetáculos de boa qualidade. O número expressivo de pessoas na plateia desse dia ressalta a necessidade da oferta artística que contemple não apenas essa faixa etária, mas também às pessoas que desejam sair de suas casas e viverem momentos agradáveis em contato com a arte.
Portanto, recomendo para quem ainda desconhece os trabalhos da Companhia Pelotense de Repertório, que guarde bem esse nome e procure assistir aos seus espetáculos que constantemente circulam pela região. Além disso, reforço o valor do empenho, ética e respeito que esses artistas matem na criação de suas peças de teatro.
Vagner
Vargas
Ator DRT:
6606
Crítico de
Teatro
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