segunda-feira, 13 de maio de 2013

Os Verdes que Apodreceram Antes de Amadurecer


No dia 18 de agosto de 2010, veio a Pelotas o espetáculo “Os Meninos Verdes de Cora Coralina”, montagem do Grupo Voar de Teatro de Bonecos de Brasíla/DF. Confesso que, quando fiquei sabendo da proposta deste grupo em adaptar os poemas da artista de Goiás para o teatro de bonecos, pensei que teríamos um espetáculo de puro lirismo.

Infelizmente, não foi o que aconteceu. Fazer a adaptação da linguagem poética para a teatral por si só já exige uma grande habilidade. Além disso, qualquer montagem voltada ao público infantil deve ser feita com rigor e cuidado para não banalizar este público. Refiro isso, pois os primeiros equívocos que vimos se relacionaram à transposição dos textos poéticos adaptados para o mundo dos bonecos. Cora Coralina deve ter revirado o seu pó, onde quer que esteja, pois a beleza e sutileza dos seus textos não chegaram nem perto dos bonecos.

No que se refere à proposta do grupo, eles pecam ao não tomarem o devido cuidado com o acabamento dos bonecos, uma vez que, além de se destinarem ao público infantil, não conseguiam ter a expressão que um boneco deve passar. Em alguns momentos, os integrantes do grupo atuavam, como personagens, contracenando com os bonecos. Isto não é um problema, nem causa estranhamento nos espectadores, o que nos surpreendeu foi que o grupo não conseguiu encontrar um intermédio entre as duas linguagens para equilibrá-las em cena e as atuações, tanto dos bonecos, quanto dos atores perdiam a sua força.

Acredito que muitas das minhas críticas a este espetáculo também se devam ao fato de que ele foi apresentado no Teatro Guarany, uma casa de espetáculos muito grande, com um palco enorme para o tamanho dos bonecos. Possivelmente este espetáculo tenha sido criado para ser apresentado em espaços menores. Eu, por exemplo, assisti no fundo da plateia, atrás das crianças e perdi muitas coisas do espetáculo, pois não conseguia enxergar os detalhes dos bonecos. Para um palco como o do Teatro Guarany, os bonecos deveriam ter o triplo do tamanho para que toda a plateia pudesse vê-los em detalhes. Entretanto, esta deveria ser a proposta inicial de um grupo que se propusesse a montar um espetáculo de bonecos para grandes espaços. Porém, acredito que este problema se deva mais a uma falta de percepção do contratante local, com a produção do grupo.

Neste sentido, ainda gostaria de ressaltar que houve pouca divulgação do espetáculo na cidade, a plateia estava quase toda vazia. Isto é inadmissível numa cidade com o número de escolas que possui e a quantidade de estudantes de artes na universidade. Alguns poderiam tentar justificar que, em Pelotas, não existe público. Eu discordo, o que não existe é boa vontade dos contratantes em divulgarem e da mídia local em publicar matérias com espetáculos que não tenham atores de novelas. O Teatro Guarany tem uma capacidade enorme, muitas crianças de diversas escolas poderiam ter sido levadas para assistirem este espetáculo, independentemente das questões técnicas que avaliei anteriormente. Como pensar em políticas públicas para a cultura, numa cidade em que não se incentiva à formação de público para as artes em geral?

Vagner Vargas
DRT – Ator – 6606

Texto publicado em 31/12/2010

Nenhum comentário:

Postar um comentário