segunda-feira, 13 de maio de 2013

Máscaras Larvárias: Teatro Físico e Poesia em Cena


        Apesar do frio e da forte chuva que caiu em Pelotas no dia 22 de maio de 2011, um expressivo número de pessoas compareceram ao espaço do Centro de Treinamento do Grupo Tholl, para assistirem ao espetáculo “Larvárias” da Cia do Giro, de Porto Alegre/RS. Durante 60 minutos, o público presente pôde se deleitar com a virtuose do trabalho dos atores Daniela Carmona e Adriano Basegio que multiplicaram seus personagens por meio das máscaras utilizadas em cena.

        O espetáculo “Larvárias” é inspirado na estética das máscaras do Carnaval de Basel (Suíça). Na década de 60, o teatrólogo francês Jacques Lecoq iniciou estudos com essas máscaras adaptado-as para o universo teatral. Posteriormente, além de Lecoq, outras escolas, como a École International Philipphe Gaulier, passaram a desenvolver pesquisas e estabelecer princípios técnicos sobre os aspectos físicos para o trabalho do ator por meio da utilização dessas máscaras em seu trabalho cênico.

        Com direção, concepção e roteiro de Daniela Carmona, a peça fala de encontros e desencontros entre seres não definidos como humanos ou animais. Porém, esses personagens, ao portarem as máscaras-larvas, assumem características intermediárias, contendo peculiaridades de homem e de bicho, sem precisar demonstrar nada de maneira ilustrativa. Na medida em que as máscaras vão surgindo em cena, o espectador começa a perceber determinadas singularidades do cotidiano, seu humor e poesia que são retratadas nas cenas do espetáculo. Não existe uma história realista sendo contada, nem tampouco a dramaturgia cênica se preocupa com a organização simplista das ideias. Muito pelo contrário, em “Larvárias” o espectador percebe que existem muitas lacunas, muitos espaços em branco que deverão ser preenchidos pelas suas percepções dos fatos que estão se desenrolando nas cenas propostas pelo elenco.

        Para aqueles que conhecem o difícil empenho físico que um trabalho com máscaras larvárias exige, sai desse espetáculo rendendo louvores aos atores pelo seu desempenho cênico. Para os leigos, fica a empatia de observar as relações entre aquelas criaturas mascaradas e das possibilidades que esses personagens criam de um imaginário diferenciado do racionalismo tradicionalmente retratado em diversas linguagens artísticas. Além disso, a trilha sonora e a iluminação cênica merecem um destaque especial, uma vez que foram concebidas dramaturgicamente de maneira orgânica com todas as situações, se relacionando diretamente com o jogo cênico entre os atores. Em alguns momentos, parecia que a personagem contracenava com a luz ou com s sonoplastia e vice-versa.

        Tanto Daniela, quanto Adriano são oriundos das escolas de Lecoq e Gaulier, o que possibilitou o rigor técnico e a maestria com que conduzem a peça. Ao assistir “Larvárias”, o espectador pode ir percebendo as situações e transpondo-as para as suas relações diárias. A sutileza com que os atores criam o jogo cênico, nos transporta a um ambiente poético capaz de extrapolar as imagens das máscaras para a vida em sociedade, fomentando um olhar mais lírico para a nossa vida diária.

        Portanto, aqueles que tiveram o prazer de assistir à peça “Larvárias” saíram com a sensação de que estavam diante de um trabalho competente e muito bem concebido nos seus mínimos detalhes. Além disso, espetáculos realizados totalmente com esse tipo de técnica de máscaras são uma raridade e poucas vezes são montados no mundo inteiro, o que torna ainda mais importante a experiência singular vivida pelos espectadores dessa obra.

 Vagner Vargas
DRT – Ator – 6606 – Crítico Teatral.

Texto publicado em 09/06/2011

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