segunda-feira, 13 de maio de 2013

Contando Histórias no Teatro Musical Infantil




                Ao primeiro olhar, trabalhar para crianças pode parecer fácil. No entanto, o público infantil é dos mais difíceis de conquistar. Por esse motivo, peças de teatro direcionadas a esses espectadores necessitam de um cuidado redobrado, ainda mais quando se propõe a ser um musical.

                O texto a seguir tratará do espetáculo “A Sopa de Pedra”, sob autoria de Tatiana Belinky, trazido  Pelotas, no dia 31 de março de 2012, pelo Grupo Luz e Ribalta, da Cooperativa Paulista de Teatro. O elenco é formado por Luiz Amorim, Níveo Diegues, Theodora Ribeiro, Renato Comi e Erick Chica que tratam de dar vida aos personagens da história cantando e executando músicas a vivo. O espetáculo conta a história de dois amigos músicos, cansados e famintos que encontram no meio do caminho, a casa de uma senhora idosa e avarenta. Logo de cara, os dois artistas tentam ludibriar essa senhora para que eles possam ficar ali, enquanto descansam e ela os alimenta. Obviamente, a idosa não se deixa enganar e acaba aplicando várias peças nos dois mambembes, em uma trama recheada de situações engraçadíssimas, permeadas por uma trilha sonora encantadora.

                Competência, essa é a palavra que melhor defino o trabalho desse grupo. Realmente, vemos um espetáculo coeso que foge dos estereótipos infantis e propõe uma maneira de contar essa história que traz o público pra dentro da cena. Essa é uma tarefa bastante complicada, uma vez que, em se tratando de crianças, a sinceridade na resposta é franca e direta. O que pudemos observar, foram crianças felizes e extremamente atentas ao que lhes estava sendo apresentado. Claro que esse resultado só foi possível, pois os atores além de terem um carisma imenso, souberam como envolver o público presente. Esse tipo de identificação e conexão entre artista e espectador costuma ocorrer quando há verdade naquilo que está sendo representado. O termo que utilizo aqui se refere à verossimilhança das personagens em cena. Nesse caso, a reverência deve ser feita ao trabalho competente de todos que compõem o Grupo Luz e Ribalta.

                Além de interpretarem os personagens da peça, os atores também cantam ao vivo, enquanto se dividem na execução instrumental das músicas. Particularmente, aprecio muito quando podemos ver o trabalho dos músicos desvelado em espetáculos teatrais com a trilha sendo apresentada ao longo da peça. Esse tipo de peculiaridade, poderia distanciar e quebrar com a impressão de fantasia e universo imaginário que as crianças desenvolvem ao assistirem a uma peça de teatro. Entretanto, quando bem feito, o efeito é inverso. O público infantil sabe muito bem ler todas as informações e signos que lhes são expostos e, no caso dessa peça, a música ao vivo serviu como um catalisador da boa recepção teatral.

                Bom, quando falo nas músicas, não posso deixar de citar que os arranjos foram muito bem compostos e, também, obtiveram o mesmo sucesso quando foram cantados. A diversidade de situações que acontecem nos bastidores de um espetáculo e o contato dos atores com o público, poderia levá-los às armadilhas da desafinação ou a semitonar as entradas de algumas músicas. Todavia, isso não foi observado. Gosto de salientar esse tipo de situação, pois acredito que, para cantar numa peça de teatro, não basta apenas ao ator querer ou ser “afinadinho”, ele tem que ter técnica para tanto e saber que, mesmo um ouvido não musicalisado, tem condições de perceber quando uma música é mal cantada. No caso de “A Sopa de Pedra”, o elenco está de parabéns pela sua performance musical.

                A única ressalva que eu faria nesse espetáculo, se refere aos figurinos e cenário de Carlos Colabone que me pareceram um tanto quanto pesados. Quando falo em peso, estou fazendo referência à paleta de cores utilizadas no todo da composição do visagismo cênico. Acredito que os tons terrosos imprimiam uma percepção monocromática do universo daquelas personagens. Porém, essa é apenas uma sensação particular minha, uma vez que não posso negar que havia uma extrema coerência na proposta de ambientação cênica. Além disso, também acredito que não precisamos transformar figurinos de peças infantis em fantasias coloridas de escolas de samba, pois isso seria subestimar a percepção estética das crianças. Ademais, concordo que, na medida em que o figurino assumiu um papel discreto dentro do espetáculo, o trabalho dos atores se sobressaiu e colaborou para dar veracidade ao todo da concepção cênica. Volto a salientar que os figurinos eram funcionais, lindos e imprimiam identidade aos personagens, apenas pesaram um pouco aos meus olhos. Contudo, não podemos negar de que se trata de um trabalho muito competente.

                Portanto, aqueles que tiveram o prazer de assistir a esse espetáculo numa tarde de sábado, saíram do Teatro do COP encantados com uma ótima apresentação de teatro infantil. Além disso, considero de extrema importância que os pais levem os seus filhos ao teatro, não apenas para terem um contato direto com um espetáculo, mas também por estarem contribuindo na formação de um indivíduo mais crítico e com um repertório estético de mundo diferenciado dos demais.

 Vagner Vargas
DRT – Ator – 6606 – Crítico Teatral.

Publicado em 13/08/2012

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